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O concelho de Alcácer do Sal é pródigo em talentos e nomes sonantes que conquistaram o seu lugar na História. Conheça-os nesta secção, desde Pedro Nunes, Bernardim Ribeiro, Ruy Coelho e João Branco Núncio a Francisco Soares Gentil e Maria Rosa Colaço, sem esquecer as personalidades agraciadas com a Medalha de Mérito Municipal atribuída pela Câmara Municipal de Alcácer do Sal pelo seu importante contributo para o desenvolvimento da sociedade e do concelho nas mais diversificadas áreas de intervenção.
“Músico de temperamento revolucionário e educado nos princípios mais avançados da sua arte” – era assim que o escultor e escritor Diogo de Macedo descrevia, em 1942, Ruy Coelho, compositor que nasceu em Alcácer do Sal a 2 de março de 1886.
Filho de um barqueiro do Sado, Ruy Coelho iniciou os seus estudos musicais muito cedo, primeiro no Conservatório Nacional e, mais tarde, em Berlim (Alemanha), onde foi aluno de Engelbert Humperdink – mestre que Richard Wagner escolheu para professor do seu filho, Siegfried Wagner. Ainda por terras germânicas trabalhou com Max Bruch, diretor da Liverpool Philarmonic Society, e com o compositor austríaco Arnold Schönberg.
De regresso a Lisboa, apresentou, em 1913, no Teatro São Carlos O Serão da Infanta, a primeira ópera cantada em português por artistas portugueses. Um ano mais tarde chocou a burguesia lisbonense com a sua Sinfonia camoniana n.º1, obra que faria parte da banda sonora do filme Camões, realizado em 1946 por José Leitão de Barros.
Dono de um espírito inovador e de um notável ecletismo, Ruy Coelho teve um papel fundamental no surgimento de um teatro lírico de características assumidamente portuguesas, de que as peças Crisfal, Rosas de todo o ano, Auto da Alma ou Orfeu em Lisboa são exemplo. Também de inspiração nacionalista foram criadas as Sinfonias camonianas, a Abertura comemorativa da chegada dos portugueses à Índia, os seis ciclos das Viagens na minha terra e a ópera Inês de Castro. Já as Suites portuguesas, constituídas por pequenos trechos descritivos, recriam algumas das mais belas e típicas paisagens nacionais, o que facilmente poderá ser percebido pelos títulos Promenades d’été au Portugal, Alentejo, Peninsular ou Alcácer.
Se a ópera e a música sinfónica foram as áreas em que Ruy Coelho mais se notabilizou, o compositor foi também pioneiro no campo do bailado. Em 1918 estreou A Princesa dos sapatos de ferro. Criada a partir de um conto de António Ferro, esta foi a primeira produção nacional de bailado.
Pianista e maestro ilustre, faleceu a 5 de maio de 1986. A sua vastíssima obra permanece, porém, quase remetida ao silêncio uma vez que são muito poucas as edições discográficas de peças suas.
Considerado por muitos o maior matemático português e um dos maiores génios do seu tempo, Pedro Nunes nasceu em Alcácer do Sal em 1502, possivelmente em Vale de Guizo. Também designado por Petrus Nonius, a versão latinizada do seu nome, pensa-se que seria de origem judaica; porém, na realidade pouco se sabe sobre a sua vida e a sua família.
Viveu no período de maior prosperidade do país e as viagens dos descobridores portugueses motivaram-lhe os estudos. Começou por estudar Filosofia e Matemática na Universidade de Lisboa, prosseguindo mais tarde os estudos em Salamanca, Espanha. Em 1525 alcançou o grau de bacharel em Medicina e, quatro anos mais tarde, foi encarregado da regência da cadeira de Filosofia Moral na Universidade de Lisboa, instituição onde lecionou também Lógica e Metafísica. Ainda em 1529, no dia 16 de novembro, foi nomeado por D. João III cosmógrafo do reino, posição de grande notoriedade.
Com o intuito de se dedicar quase exclusivamente à investigação, Pedro Nunes abandonou o ensino oficial em 1532, continuando, contudo, a ser tutor dos infantes D. Luís e D. Henrique (futuro cardeal e rei na sequência do desaparecimento de D. Sebastião).
A 16 de outubro de 1544 retomou a docência, desta feita da disciplina de Matemática na Universidade entretanto transferida para Coimbra, cidade onde viveria até ao final da vida. Três anos depois, a 12 de dezembro de 1547 passou a ser titular do cargo de cosmógrafo-mor do reino, pelo que se deslocava com frequência a Lisboa para tratar de questões relacionadas com a navegação.
Pedro Nunes morreu a 11 de agosto de 1578, mas deixou uma obra tão vasta quanto inovadora. Fundador da navegação teórica, mudou a forma como os descobridores portugueses percorriam o mundo. A sua maior descoberta, a curva loxodrómica, revolucionou a navegação e a cartografia, mas terá sido o nónio (instrumento que consiste na justaposição de escalas no astrolábio náutico ou no quadrante) o invento que mais o celebrizou. Entre as obras escritas pelo matemático destacam-se Tratado da Esfera, de 1537, e De Crepusculis, livro datado de 1542 em que é apresentado o nónio e em que o matemático resolve o problema da determinação rigorosa da duração dos crepúsculos para dada latitude e dado dia do ano.
A Câmara Municipal de Alcácer do Sal homenageia com a Medalha de Mérito Municipal cidadãos, empresas ou instituições que se destacaram pelo seu contributo para o concelho e para a sociedade em diversas áreas. Consulte nesta secção as medalhas atribuídas por ano.
Conhecida por escrever vários livros infanto-juvenis, nunca gostou de ser chamada de escritora de literatura infantil. Sempre disse que, quando escrevia, era para todos os leitores e defendeu durante toda a vida a importância da leitura no desenvolvimento e educação da criança.
Natural do Torrão, onde nasceu em 1935, Maria Rosa Colaço fez o curso de enfermagem no Instituto Rockfeller, mas optou pelo jornalismo que exerceu em África (Notícias da Beira e Notícias de Lourenço Marques) e em Portugal (colaborou em vários jornais e publicou crónicas regularmente, durante 20 anos, no jornal A Capital).
Frequentou a Escola do Magistério de Évora e destacou-se como professora do ensino básico em Moçambique, em Cacilhas e em Almada, onde passou a viver. Foi também assessora da RTP durante 12 anos, tendo sido responsável por vários programas para crianças, como “Eu sou capaz” ou “Como é, como se faz, para que serve”.
O seu primeiro livro foi “Espanta pardais” e escreveu, entre outros títulos: “A gaivota” (prémio Soeiro Pereira Gomes, em 1982), “Pássaro branco” (prémio Alice Gomes), “O menino e a estrela”, “Aventuras de João-Flor e Ana-Amor”, “Aventuras com asas” ou “Maria tonta como eu”. Em 1958, com a peça “A outra margem”, ganhou o Prémio Revelação de Teatro.
A sua obra mais conhecida é “A criança e a vida”, “esse milagre de pedagogia poética” nas palavras de Urbano Tavares Rodrigues, uma antologia de textos infantis que deu asas à capacidade de sonho e invenção dos mais pequenos e teve mais de 40 edições em várias línguas.
Morreu a 13 de outubro de 2004 e está sepultada no cemitério do Torrão.
Manuel Telles Antunes nasceu em Alcácer do Sal, em 1905. Cientista, físico, professor. Doutorou-se na Universidade de Madrid.
Fez parte do grupo que fundou a revista de divulgação científica Portugaliae Physica, destinada a publicar trabalhos de investigação.
Membro das sociedades portuguesas de Física e Química e de Matemática, teve diversos trabalhos científicos publicados.
Nascido em Alcácer do Sal, em 1889. Morreu em Lisboa, em 1961. Foi oficial do exército, engenheiro, adido militar, professor e político, cavaleiro da Ordem Militar de Avis.
Secretário de Estado do Comércio, Ministro das Finanças e do Comércio (1918), Ministro da Agricultura (1928).
Deputado, Governador do Banco de Angola e presidente da Câmara Municipal de Alcácer do Sal (1945-1949; 1955-1961)
João Alves Branco Núncio nasceu em Alcácer do Sal a 15 de fevereiro de 1901. Filho de lavradores, viveu sempre em permanente contacto com a terra pela qual era apaixonado. “O cheiro da terra molhada, que os poetas cantam, é um grande estimulante. Anima-nos sempre a maiores empreendimentos. Se a terra nos ajuda tanto, devemos-lhe gratidão”, afirmou o cavaleiro numa das suas crónicas.
O seu pai criava touros de lide, pelo que cedo despertou para aquela que viria a ser a sua verdadeira vocação: a de cavaleiro tauromáquico. Com apenas 13 anos, João Núncio fez a sua primeira apresentação em público na Praça de Touros de Évora. No entanto, obrigado a prosseguir os estudos, foi forçado a deixar as arenas por algumas temporadas.
Só regressou às lides em 1917 depois de ter concluído o Curso Geral do Comércio na Escola Académica de Lisboa, onde conheceu o seu amigo e companheiro de arenas, Simão da Veiga. Começou então a atuar em praças de província, mas o seu estilo inovador e o génio que revelou na arte do toureio deixaram adivinhar a brilhante carreira que o cavaleiro viria a ter.
Apadrinhado por António Luís Lopes, João Branco Núncio recebeu a alternativa a 27 de maio de 1923, na histórica Praça de Touros do Campo Pequeno, em Lisboa. Na altura, o cavaleiro era já figura de destaque no meio tauromáquico. Uma semana depois de receber a alternativa foi contratado para tourear no Campo Pequeno, mas fez constar do seu contrato uma cláusula em que exigia lidar apenas touros puros, ou seja, animais que nunca tivessem sido toureados ou corridos em praça.
Com a ajuda do seu amigo Simão da Veiga, João Núncio iniciou uma revolução na tourada portuguesa que conduziu ao abandono do uso do touro corrido. O cavaleiro revelou-se também inovador na forma como preparava as suas montadas; cada um dos seus cavalos adaptava-se a uma lide específica.
Conhecido como o “Califa de Alcácer” e considerado uma das mais altas figuras do toureio equestre, João Núncio conquistou o público dentro e fora de Portugal com o seu estilo espetacular e figurativo. Toureou pela última vez a 21 de outubro de 1973. Ao longo da sua carreira terá participado em cerca de mil touradas, lidado mais de dois mil touros e utilizado 61 cavalos.
Morreu a 26 de janeiro de 1976, na Golegã.
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